Livro "Os Escorpiões" [PDF]
Escorpiões da Bahia, Brasil [PDF]
Escorpiões de Salvador continental, Bahia, Brasil [PDF]
• Escorpiões de importância médica do Nordeste do Brasil [PDF]
Aranhas da Bahia, Brasil [PDF]
Aranhas de Salvador, Bahia, Brasil [PDF]

 

Escorpiões e Aranhas foram definidos como Insetos por Aristóteles em seu livro “De Historia Animalium”, escrito 350 anos da Era Cristã (A.C.). Por isso, até hoje as pessoas chamam estes animais vulgarmente de “insetos”, o que está totalmente equivocado. O pior é que é difícil as pessoas usarem o termo mais correto que é “aracnídeo”, por acharem uma palavra complicada, apesar de ser muito fácil diferenciar um do outro, pois insetos têm 6 patas e as aranhas e escorpiões têm 8 patas.

Escorpiões e Aranhas pertencem ao Filo ARTHROPODA, Subfilo CHELICERIFORMES, Classe CHELICERATA, Subclasse ARACHNIDA e Ordens SCORPIONES e ARANEAE, respectivamente.

Os Artrópodes representam o maior grupo de animais que existe no Planeta, representado sozinho cerca de 85% das espécies animais viventes (número estimado de mais de hum milhão de espécies: 1.097.289). Surgiram provavelmente nos mares antigos, há mais de 600 milhões de anos, quando não existia nenhum invertebrado no ambiente terrestre e por isso mesmo, passaram por uma enorme irradiação evolutiva, ocorrendo todos os ambientes da Terra e explorando todos os estilos de vida conhecidos. Os Artrópodes são animais com corpo segmentado (tanto interna quanto externamente), dividido em no mínimo duas regiões (cabeça e tronco) e recoberto por uma cutícula que forma um esqueleto externo bem desenvolvido, constituída de quitina.




Exemplos de artrópodes

Os Cheliceriformes incluem os quelicerados (límulos, aranhas, escorpiões, ácaros, carrapatos, entre outros) e os pouco conhecidos Pycnogonida (aranhas do mar, que nada têm a ver com as aranhas). Estes animais se originaram no mar, mas a maioria vive no ambiente terrestre. Os Cheliceriformes se distinguem dos outros Artrópodes por apresentar o corpo dividido em duas regiões: o cefalotórax (que inclue a cabeça e o tórax) e o abdômen. No cefalotórax apresentam quelíceras (apêndices usados para triturar o alimento e outras funções, inclusive defesa), pedipalpos (com funções múltiplas, como órgão copulador nas aranhas e de manipulação de alimento e sensitivo nos escorpiões) e 4 pares de patas para a locomoção. O abdômen em alguns grupos têm um segmento terminal, chado “telson”.

Ácaro

Límulus

Os Arachnida incluem animais com o abdome segmentado, como os escorpiões, ou não, como a maioria das aranhas e sem ou com apêndices, como as fiandeiras nas aranhas e pentes nos escorpiões. As trocas gasosas ocorrem através das traquéias e pulmões foliáceos. São exemplo de aracnídeos, além das aranhas e escorpiões, os ácaros, carrapatos, opiliões, amblipígeos, pseudo-escorpiões, palpígrados, ricinulei, schizomida, solpugida e uropygi.

Exemplos de aracnídeos

Os Escorpiões são Artrópodes por possuírem o corpo segmentado, exoesqueleto e apêndices articulados. Estes animais existem comprovadamente há mais de quatrocentos milhões de anos, sendo os aracnídeos um dos primeiros grupos a habitar a terra firme.

A fauna mundial de escorpiões abrange cerca de 16 famílias, 155 gêneros e 1.600 espécies descritas. Um terço desta diversidade pertence a uma única família, a Buthidae, que contém as 25 espécies cujas peçonhas podem provocar acidentes graves ou letais em seres humanos, evidenciando sua importância médica. Apesar de ser considerado um grupo pouco expressivo com relação à riqueza de espécies, globalmente, a Ordem Scorpiones apresenta distribuição geográfica bastante ampla, estando representado em todos os continentes, com exceção da Antártida. No Brasil estão presentes 4 famílias e aproximadamente 110 espécies de escorpiões. O gênero Tityus é o mais diversificado com mais de 50 espécies e representa cerca de 60% da fauna escorpiônica neotropical.

Na Bahia são 25 espécies de escorpiões, distribuídas em 3 famílias, o que representa quase 1/3 da escorpiofauna nacional.

Tityus brazilae (foto: Tiago Porto)

Os escorpiões brasileiros medem geralmente de 3 a 9 centímetros de comprimento, possuem hábitos noturnos e durante o dia escondem-se sob troncos, cascas de árvore, bromélias, pedras e fendas de rochas ou em buracos no solo.

Seu exoesqueleto protege os órgãos internos, além de prevenir contra a perda de líquidos corpóreos. Sendo rígido, limita o tamanho do animal, sendo necessárias mudas ou ecdises periódicas para que haja aumento de tamanho (de 4 a 7 mudas, em média).

Alimentam-se principalmente de insetos e aranhas. O canibalismo pode ocorrer em conseqüência da competição pelo espaço e é freqüentemente observado em cativeiro, quando o alimento e o espaço são limitados. Dentre seus predadores estão camundongos, quatis, macacos, sapos, lagartos, corujas, seriemas, galinhas, algumas aranhas, formigas, piolhos de cobras e os próprios escorpiões.

Os escorpiões podem se reproduzir de forma sexuada, quando o macho procura pela fêmea através da captação de feromônios e utilizando os pentes. Quando encontra a fêmea a segura pelos palpos, lhe conduzindo para uma superfície propícia para a fertilização. A inseminação ocorre por meio da transferência indireta do esperma: o macho deposita o espermatóforo no solo e depois manipula a fêmea para que o mesmo seja introduzido no seu opérculo genital. O período de gestação é muito variado e para o gênero Tityus, dura cerca de 3 meses. Os escorpiões também podem se reproduzir por meio assexuado, é a partenogênese, sem a presença do macho. As fêmeas apresentam cuidado parental com sua prole. Os filhotes permanecem sobre seu dorso durante os primeiros dias de vida como uma forma de proteção. O veneno dos escorpiões fica localizado em um par de glândulas no interior do telson, localizado no final do abdomen, que erroneamente chamamos de cauda. O animal pode usar a peçonha para se defender dos seus predadores ou para se alimentar.

O veneno é complexo e possui enzimas, serotonina e principalmente neurotoxinas. Estas toxinas agem no sistema nervoso liberando maciçamente neurotransmissores. O principal sintoma é a dor e nos casos graves podem ocorrer náuseas e vômitos e o óbito pode ocorrer devido a choque cardiocirculatório ou edema agudo de pulmão.

Ferrão do escorpião

O problema do escorpionismo no Brasil e na Bahia é alarmante e os acidentes por estes animais são considerados um problema de saúde pública. Dados do Ministério da Saúde de 2000 a 2008 mostram que o número de acidentes aumentou em 300%, o número de mortes aumentou em 500%, assim como o número de municípios com registro deste tipo de acidente, aumentou em 240%. Em 2008 foram registrados 37.862 casos com 87 mortes. a Bahia ocupou o segundo lugar no ranking nacional, com 6.928 acidentes registrados. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia, o maior número de notificações veio das regiões de Caetité e Vitória da Conquista, onde também são frequentes os óbitos.

A letalidade do acidente em adultos saudáveis é baixa, 0,5%o, mas o risco de morte é maior na faixa etária até 14 anos, que pode chegar a 48%. Eis porque devemos nos preocupar com o controle deste tipo de acidente, pois coloca em risco as nossas crianças, que são as mais vulneráveis. Os principais casos de acidentes humanos graves e até mesmo letais no Brasil estão relacionados basicamente a três espécies: Tityus serrulatus, Tityus bahiensis e Tityus stigmurus. Na Bahia os acidentes são mais prevalentes com Tityus serrulatus, mas em Salvador os escorpiões que mais provocam acidentes são o Tityus stigmurus e Tityus brazilae.

Em caso de acidente com escorpiões, dirija-se imediatamente a um hospital para ser medicado e usar o soro antiveneno, se necessário. não coloque nada no local, apenas lave-o com água e sabão.

Afinal, porque os escorpiões são tão frequentes? em Salvador, por exemplo, o bairro do Nordeste de Amaralina é o que apresenta a maior prevalência de acidentes escorpiônicos no mundo. As causas da proliferação destes animais e consequentemente de acidentes são a destruição do meio ambiente, o crescimento desordenado das cidades, o aumento populacional e os baixos índices de desenvolvimento humano, nos bolsões de miséria das regiões metropolitanas das capitais do nordeste. Todos estes fatores propiciam o principal alimento do escorpião que é a barata e esconderijos para eles se abrigarem, nas frestas, ralos de pia, entulhos e lixo que se amontoam nas ruas de bairros pobres do país.

Escorpião no cano de esgoto em um bairro de Salvador, BA.

Durante todos estes anos, o problema tem sido negligenciado por todas as esferas de governo, principalmente do Nordeste, onde a situação é mais preocupante. o Ministério da Saúde, em 2009, começou a implantar um Programa de Controle de Escorpiões no Brasil, que envolve os governos federal, estadual e municipal. Esperamos sinceramente que ele tenha sucesso, já que é impossível eliminar os escorpiões, mas é possível controlar o crescimento de suas populações, diminuindo assim o número de acidentes e óbitos. A atuação do governo é importante, mas a ajuda da população é fundamental. A limpeza é a palavra-chave para o controle destes animais. Limpar a casa todo dia, evitar juntar lixo e entulho, como madeiras e tijolos, são atitudes essenciais para quem quer ver a sua família livre do risco de conviver com estes animais dentro de casa. A união também é muito importante e a vizinhança pode e deve ajudar com multirões de limpeza. as escolas são um local ideal para palestras sobre o assunto, tanto com os estudantes, quanto com a comunidade local. Precisamos da educação para criar bons hábitos de higiene e demonstrar o amor pela nossa cidade, do Salvador, da Bahia de todos os santos.

As Aranhas são um grupo de artrópodes bastante diversificado com mais de 80 mil espécies. Na Bahia são 390 espécies e apenas 6 delas oferecem perigo para o ser humano, caso ocorra algum acidente. Habitam praticamente todas as regiões da terra, com exceção dos pólos.

Existe uma grande diversidade de tamanho entre as aranhas, que podem medir de poucos milímetros a alguns centímetros. Ao contrário do que algumas pessoas pensam as aranhas não são insetos, mas sim aracnídeos, pois apresentam 8 patas. Os insetos possuem 6 patas e um par de antenas. O corpo das aranhas é dividido por uma “cintura” que divide a cabeça que está unida ao tórax e o abdômen.

Em seu ambiente natural como as matas, as aranhas vivem em tocas, troncos caídos, embaixo de folhas secas, em arbustos, atrás de cascas de árvores ou na copa delas. No ambiente urbano podem se esconder em materiais de construção empilhados, como telhas, tijolos e canos, nos jardins das casas e das praças ou em cantos e frestas de paredes e muros.

As aranhas são carnívoras e comem principalmente de insetos. A depender da espécie, podem também comer pequenos peixes, anfíbios, lagartos, serpentes, aves e ratos. Aranhas são predadas pelas próprias aranhas, além de insetos, como os louva-deus, pelos anfíbios, sapos, lagartos, aves e roedores.

As populações de aranhas são dominadas pelas fêmeas que são bem maiores e mais agressivas que os machos e têm a sua própria teia ou toca. O macho mesmo pequeno se esforça para atrair e ser aceito pela fêmea. Podem tecer uma teia parecida com uma caminha, levar um inseto de presente, dançar e emitir sons, que não é exatamente um canto. Quando consegue conquistar a fêmea, a cópula é rápida, já que em alguns casos ela não pensaria duas vezes para comer o parceiro.

Apesar da grande diversidade das aranhas, apenas três tipos são considerados de importância médica: a aranha marrom (Loxosceles), a viúva-negra (Latrodectus) e a aranha armadeira (Phoneutria). Ocorre que a identificação destas aranhas não é fácil, até mesmo para os biólogos. Portanto, não devemos sair por aí matando todas as aranhas que vemos pela frente porque elas são de grande importância para o equilíbrio do nosso ecossistema.

Loxosceles, aranha marrom (foto: Tiago Porto)

Latrodectus gr. mactans, viúva-negra (foto: Bruno Paixão)

Phoneutria, aranha armadeira (foto: Bruno Paixão)

O veneno das aranhas fica localizado nos ferrões, próximos à boca. É utilizado principalmente para a sua alimentação, mas pode ser usada no sua higiene e se ameaçada pode usar para se defender. O veneno é complexo e é diferente em cada tipo de aranha.

Acidentes por aranha marrom causa lesões na pele, desde vermelhidão até necrose. Em casos graves pode haver insuficiência renal aguda e mais raramente o óbito. Acidentes por viúva negra e armadeira causam muita dor, inchaço leve e vermelhidão no local da picada, além de agitação, aumento da pressão arterial e da respiração. A diferença entre os acidentes por estas aranhas está na dor muscular, principalmente na pernas, provocada pelo veneno da viúva negra. Casos mais graves são mais frequentes nas picadas por armadeiras, onde o acidentado pode ter diminuição da pressão arterial e dificuldade de respirar, além de vômitos e choque.

O Brasil produz soro para o envenenamento de cada uma destas aranhas, pois não existe um soro universal. Por isso, é importante reconhecer a aranha pela observação do animal ou através dos sintomas que são diferentes.

Em caso de acidente, a pessoa deve procurar o hospital e apenas lavar o local com água e sabão. Não deve fazer torniquete ou garrote, não beber cachaça, pinga ou querosene. Não furar, não cortar e nem colocar nada no local da picada.

Em 2010 a Organização Mundial de Saúde reconheceu o acidente por animais peçonhentos como doença negligenciada, ou seja, uma doença tropical, cujas medidas preventivas e o tratamento são conhecidos, mas não são disponíveis nas áreas mais pobres. Infelizmente é o caso do araneísmo aqui na Bahia, onde mesmo com o tratamento gratuito, nem sempre as informações sobre estes acidentes e estes animais são conhecidas e de fácil acesso à população.

Caso encontre um animal deste em casa, procure o Centro de Controle de Zoonoses da sua região. Apesar de venenosas as aranhas são muito tranquilas e só picam quando molestadas. Sua principal função na natureza é mesmo manter equilibrada a população de insetos, sua comida predileta!

Rejâne Maria Lira-da-Silva

Forma de citação deste texto: LIRA-DA-SILVA, RM. 2011. Biota Bahia: Acervo Impresso e Digital dos Répteis e Aracnídeos da Bahia, Brasil. Núcleo Regional de Ofiologia de Animais Peçonhentos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia. Disponível em: http://www.noap.ufba.br/biotabahia, acessado em ......... (incluir a data da consulta).